sexta-feira, 4 de julho de 2008

Tudo deve ser contado pelo menos uma vez -diz Javier Marías.

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O Chá de Limão
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Uma das vantagens de ter muitos irmãos é ter sempre
um ou mais companheiros de brincadeira
e não menos importante, cúmplices de asneira!

Os meus pais tinham ido visitar uns amigos
e nós os quatro fomos para o quintal depois do almoço.
Já não sei se teríamos estado a jogar à macaca no jogo
desenhado a pedras azuis no calcetado do quintal,
a saltar à corda ou a jogar ao berlinde.
Sei que estávamos com sede e nos apeteceu um chá de limão.
Por sorte o limoeiro tinha ainda um, o último!

Descascámos o limão, cortando a casca em lascas fininhas,
como sempre víramos a nossa mãe fazer, deitámo-las na cafeteira
e deixámos ferver em lume baixinho durante uns minutos.
Cada um de nós juntou o açúcar que lhe apeteceu,
pelo que uns beberam chá outros algo mais próximo de um xarope...

Pouco depois apareceu um outro irmão,que também quiz beber um chazinho...
Dissemos-lhe que tínhamos pena, que ele tinha chegado tarde,
que não só já não havia mais chá, como o limão tinha sido o último.

Teimou que não, que estávamos só a ser maus para ele,
chorou, berrou, gritou e não arredou pé da sua convicção
de que lhe estávamos a mentir!
Ele tinha só uns cinco anos, mas a teimosia de um velho!

Cansado de o ouvir, impossibilitado de o convencer do contrário,
o meu irmão Francisco, guiado talvez pela sua criatividade latente,
teve uma ideia brilhante.
Pegou numa caneca, foi à casa de banho, fez um xi-xi lá para dentro,
juntou-lhe um pouco de água e açúcar e deu-lhe a beber!

Ele, o teimoso-mor, bebeu, regalou-se e depois disse:
-Afinal eu tinha razão, havia chá, vocês é que não me queriam dar!
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O que não mata cura, dizia a minha mãe, mas com ele não resultou.
Quantas vezes não tivémos já que lhe perguntar:
-Queres um chazinho de limão?
.
Para bom entendedor meia palavra basta...

12 comentários:

Mário Simões disse...

É por essas e por outras que eu não teimo.
Que estória maravilhosa.

dona tela disse...

Sou mesmo uma alma sensível.

Muitos cumprimentos.

Anónimo disse...

Olha irmã

Nem fazes ideia de quantas vezes eu já contei essa história, talvez acrescentando alguns pontos...

A minha versão (lembro que o meu testemunho não foi presencial, até porque ainda devia andar dividida entre o espermatezóide do pai e o óvulo da mãe, ou seja ainda era só matéria prima).

É bastante parecida mas passa-se à noite, com os pais já deitados e os manos entretidos a relembrar as suas histórias e aventuras, bebendo o seu belo chá de limão feito com certeza com os perdicados descritos, quando aparece então o "tal". O resto é igual...

Mas faz as delícias de quem ouve.

Tal como a história da faca a servir de espada que rasou o sobrolho do Fernando. E do João a avisar a mãe, que entretanto chegava a cada, que não se preocupasse que não se tinha passado nada (pois claro, já estava cozido e tratado, graças ao posto médico ao fim da rua).

E outras tantas que nem sei!!!!

Algumas mais cruéis, como por exemplo quando resolviam bater nos miúdos que não faziam parte da "troupe".

Este post é de recordações ou de homenagem ao "LIMÂO"???????


beijos saudosos e não tarda nada recompensados dessa saudade (férias!!!!!!!)

da tua Sister

Anónimo disse...

Só mais uma coisa:

o que não mata, engorda

o que arde cura e o que aperta, segura

bjs
sister

mena maya disse...

Mário és um sábio, meu querido!
Beijos a todos!

Donatela, eu também...
Por isso estava à espera de um comentáriozinho seu!

É um bom serviço da sua parte que se anuncie, pois assim posso logo clicar no seu nick e voar directamente para o seu sítio, mas seria interessante ouvir a sua opinião, se a quizer dar!
Um abraço


Olha Caçulinha, de facto temos histórias maravilhosas para recordar...
Que pena tenho de não ter escrito as que a Mãe contava, como a dos dois soldados da província etc. etc.

Este post é tão simplesmente um passar de palavra, para que um dia os nossos netos ainda possam ouvir estas histórias, dos "indíos" significando selvagens,ou dos 14 como nos alcunhavam alguns.
Para horror do senhor nosso Pai, diga-se a favor da verdade...
Algumas vezes ultrapassámos a sua capacidade de imaginar!

A Mãe também dizia " Se tens fome, come um homem"! Claro que não era para levar à letra...

Beijos grandes

rui disse...

Olá Mena

Olha que esta história fez-me rir!
Um chazinho de limão! ehehehehe!!

Que tenhas um lindo fim-de-semana
Beijinho

Teresa David disse...

A história está bem contada e até senti o sabor do chá, do verdadeiro claro, pois amiúde tomo chá ou carioca de limão.
Obrigada pela visita e simpáticas palavras, todo o estímulo nesta fase da minha vida é bem vindo.
Bjs
TD

M. disse...

Que história deliciosa, Mena. Adorei.

mdsol disse...

Maior do que a delícia da história é a delícia de a partilhar desta forma tão natural! É um prazer vir por aqui!
:))

mafS disse...

:) Tia gostei mais desta historia, este hitlerzinho ninguem decapitou... so lhe adocaram a raiva com cha de limao!


muitos beijinhos cheios de saudades!!!

bettips disse...

'Tou a ver... rapaz que precisaria de "muito chá em pequeno" e diria mais, até em grande!
Gira a vossa memória!

mena maya disse...

Mafinha, nunca se sabe o que o futuro traz...

Não deixemos que os sentimentos negativos se apoderem de nós!
As acções ficam com quem as pratica!

Beijocas gordas com muito amor!

LOL Bettips!
Acho que o melhor seria ele arranjar uma plantação de limões...
Beijinho