quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Desassossego - FotoDicionário

Desassossego foi a palavra que propus para o FotoDicionário.
Consequentemente, andámos 32 de nós num alvoroço,
durante toda a semana.
.
Participei com esta fotografia tirada em Praga em junho de 2007.



O que verdadeiramente me perturbou,
não foi o facto de ver pedintes por vários cantos da cidade.
A isso já nos habituámos, infelizmente!
.
Ver pessoas a pedir assim deitadas,
nesta posição humilhante, sem ousarem levantar os olhos do chão,
ou escondendo o rosto entre as mãos,
e imaginar-lhe o desassossego que lhes vai na alma,
foi o que me desinquietou sobremaneira...
.
.
Perguntei ao empregado do restaurante onde almocei,
se faria parte de algum ritual, se teria algum significado especial,
esta forma de pedir que nunca tinha visto em outro lado.
Deixei-o envergonhado,
o que não era de forma alguma a minha intenção,
e ele, porque não pôde ou não soube,
deixou-me sem resposta....

13 comentários:

mafS disse...

Estas imagens sao de facto brutais.

Acho que a tia esta uma brilhante fotojornalista... Era bom ve-las publicadas na Time ou na National Geographic.

Desassossega sentir-me um grao de areia deste mundo, sentir-me pequenina, muito pequenina, com uma tristeza que arrasa profundamente o meu ser.

Nao sei explicar melhor que isto Tia, tenho imagens na minha mente de pessoas e sitios em que nunca estive, que nao vi com os meus olhos, mas que construi das historias que a Avo contava, como a caixa de papelao da Ausenda a quem era cobrada uma renda de nao sei quantos escudos...

Aflige-me. aflige-me e faz nascer em mim uma urgencia que nao consigo agora explicar.

Grande beijinho cheio de saudades e obrigada Tia, por mais uma historia.

Verinha disse...

Será que algum dia alguem vai sossegar?
Pertinente! Não?!

rui disse...

Olá Mena

Como já tinha dito no PPP, é uma foto que nos deixa desassossegados pela humilhante condição humana.

Beijinhos

mena maya disse...

Mafaldinha,

somos um grão de areia neste universo, mas se não estivessemos cá, nada seria o mesmo.

És uma alma muito sensível, estás numa fase de maturação, longe da mãe e dos manos, de todos nós que te amamos e damos segurança. Embora a distância nada altere nesse amor, faz falta a presença, o gesto, a voz e tudo isso inquieta por vezes...

Um certo desassossego é saudável,
e sinal de que não andamos só a vegetar, que nos toca e sensibiliza o que vai por esse mundo fora.

Não te esqueças, como dizia o tio Francisco:
"...e se esses momentos de solidao chegarem, nunca te esqueças que estou contigo nas plantas, nos animais, no ceu azul ...no canto dos passarinhos e no messenger"!

Um beijinho com todo o amor da tua ÚNICA (citando-te...)
tia mena


Verinha,

that's the big question!!!
Beijinhos


Rui,
é isso mesmo que sinto!

Mesmo que haja quem pense que é puro oportunismo, pedinchice organizada, ou falta de vontade de trabalhar, e ainda que assim seja, não posso deixar de pensar que são pessoas que ali estão.

E questiono-me que vida terão tido, se tiveram uma infância digna desse nome, se foram amados, o que os terá levado ao ponto de se humilharem desta forma...

Anónimo disse...

Olá minha amiga.
Tenho que te dizer que a visita a este local é já, para mim, uma actividade quase diária e que se traduz num enorme prazer.
Quando vejo as tuas fotos e leio os teus pensamentos sobre elas, não posso resistir à tentação de tentar encontrar a preciosa amiga "unchota" que, já nessa altura mostrava um lado bem humano. Devo dizer-te que já nesses tempos tanto me atraía essa tua componente e que, por isso, me deixou tão gratas recordações. Considero que tive a sorte de continuar ao longo da vida a privilegiar essa amizade, que de forma mais ou menos regular nos tem acompanhado de um modo saudável e agradável.
Por tudo o que acabei de dizer, pelos bons e certeiros momentos captados pelas tuas fotos, pelas ideias que sobre eles apresentas, a visita é sempre uma alegria.
Sobre o Post actual, o que tenho a dizer-te, é que de facto é um desassossego... Tem que existir, de facto, em todos nós uma certa consciência da indignidade do mundo actual. Nada disto deveria fazer já parte da nossa sociedade, mas infelizmente e cada vez mais, os homens são vítimas de outros homens e de situações que lhe são totalmente alheias.
beijinhos
mena f.

mena maya disse...

Mena,
é de facto como dizes,cada vez estamos mais a viver na selva, é o salve-se quem puder, a ganância, o abuso do poder praticados a todos os níveis sociais.
Um assunto muito complicado e causador de muito desassossego, e controvérsia...

Na casa dos meus pais, nunca houve alguém que batesse à porta a pedir, que não fosse ajudado.
Comida, alguma roupa ou calçado encontrava-se sempre para dar...
E se houvesse necessidade de remédios, também se ia à farmácia.

Acabar com a pobreza, parece-me uma utopia, enquanto o homem for homem...mas eu continuo a ajudar sempre que posso e não para limpar a consciência, mas por ter a consciência que por muito pouco que seja, algum alívio traz!

Tudo isto trouxe-me um episódio da nossa juventude à memória:

lembras-te daquele miúdo pobrezinho, tinha uns 6 /7 anitos, que nos costumava esperar na paragem do autocarro, quando vínhamos do liceu, e a quem sempre que podíamos comprávamos um bolo na Nilo?

Leveio-o a minha casa umas quantas vezes, dei-lhe banho e vesti-o de lavado com roupas do meu irmão Delfim.
Ora um belo dia, saio do autocarro e o nosso amiguinho queria o bolo do costume. Só que eu não tinha um tostão no bolso e disse-lhe que não podia ser.
Então ele muito zangado, de mão na anca disse-me: -se não me compras agora um bolo, nunca mais te deixo dares-me banho!!!!!

E com esta me vou, não sem te dizer que gosto muito de te receber aqui.

Beijinhos

Anónimo disse...

Esta é uma questão que me deixa consternada.

È uma amostra do que vai por este nosso mundo fora.

Eu, por exemplo, não me acho capaz de ir visitar a Ìndia, apesar da grande curiosidade pela sua imensa cultura e por ser tão diferente do que me rodeia e do que já conheço(pelo que podemos ver nos documentários...), pela simples razão que me aterroriza ser confrontada, ao vivo e a cores com a miséria, as dificuldades, e as nenhumas condições em que vivem milhões de pessoas!

Porque o grande problema é como diz o ditado "olhos que não veem, coração que não sente".

Nós sabemos que estas situações extremas existem, que é muitíssimo injusto que haja quem viva nestas condições, preocupamo-nos com esses factos, mas seguimos a nossa vidinha. Não sei se felizmente ou se infelizmente (depende do ponto de vista e da posição de cada um)...

E, contudo, não é por isso que somos "más pessoas", somos somente sobreviventes...

Depois, de quando em vez, lá aparecem os "especiais", aqueles que em vez de como nós prosseguirem, páram, cuidam, amam, acolhem, e lutam diariamente para, pelo menos, ali poderem colmatar as faltas do sistema que somos todos nós!

Então nós olhamo-os com orgulho de haver ALGUÉM que faz tudo aquilo que nós não podemos ou porque somos muito ocupados, ou porque temos família, ou porque... (mil e uma razões válidas para acalmar os nossos corações)

E lá continuamos a viver o nosso dia-a-dia, distanciando-nos daquela realidade e indagando-nos porque será se consegue deixar viver pessoas abaixo do que é minimamente aceitável para seres vivos, quanto mais seres humanos - crianças, mulheres e homens - que sabe-se lá porquê tiveram esse destino.

E depois desta "Reflexão" vos digo minha filha e minha irmã, e a todos os que tiverem a paciência de a ler, que desasossegos todos temos, uns mais do que outros, depende muito da consciência social de cada um.

Mafalda

Sei muito bem das "histórias" que a avó contava porque fui com ela muitas vezes visitar essas "acomodações" da Auzinda e de outras "protegidas", era eu uma criança.

E agora, reduzo-me à minha insignificância e tento ir vivendo de acordo com o que me foi ensinado, almejando conseguir fazer hoje melhor do que ontem.

mena maya disse...

Irmã querida,

estás uma Mestra, muito bem pensado e escrito!
E por vezes ainda nos queres fazer acreditar que não sabes escrever...

Um beijo rico de amor!

Maria P. disse...

Impressionantes estas imagens.
Desassossegos verdadeiros...

Beijinho*

bettips disse...

Muito triste quando a casa onde se chora é a rua...
Já te disse e sabes o que penso, Mena.
Aqui nesta...ainda o dedo da Coca-Cola, onde se espalham milhões de anúncios a água adocicada. Milhões de milhões...
E o mundo gira ... não pula nem avança!
Bjs

mena maya disse...

Maria,
Bettips,
é bem verdade o que dizem!
De facto um horror pensar como vivem muitos de nós!
Pior que os bichos! Que solidão, que desespero nestes coracões...

E o mundo não pula nem avança, retocede!
Continuemos nós a fazer o que pudemos, para lhe darmos uns empurrões...

jawaa disse...

Na verdade estas imagens são dolorosas, tiram o sossego mesmo a quem tenha apenas um pingo de sensibilidade.

mena maya disse...

Jawaa,

é mesmo, porque são pessoas...